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Trabalho digno na era dos aplicativos: utopia ou urgência?

Trabalho digno na era dos aplicativos: utopia ou urgência?

A ascensão da chamada “economia de plataforma” foi vendida como sinônimo de liberdade: trabalhe quando quiser, seja seu próprio chefe, escolha seu ritmo. Para muitos trabalhadores, no entanto, essa promessa se revelou uma ilusão. No lugar da autonomia, vieram jornadas exaustivas, ausência de direitos básicos e um nível de insegurança que nos obriga a perguntar: trabalho digno na era dos aplicativos é utopia ou urgência?

A perspectiva de Paulo Galo, entregador e ativista conhecido por expor as contradições dessa nova economia, ajuda a entender o cenário. Ele lembra que, embora a tecnologia seja uma ferramenta poderosa, o modelo de negócios de muitas empresas de aplicativo se apoia em explorar a fragilidade social e legal dos trabalhadores. A retórica do “empreendedor de si mesmo” esconde o fato de que o risco, o custo e a instabilidade ficam quase totalmente nas costas de quem pedala, dirige ou carrega pacotes.

O “trabalho por conta própria” promovido por essas plataformas não oferece seguro, férias, 13º salário ou aposentadoria. Pior: cria uma pressão permanente para estar disponível, já que as métricas algorítmicas e as avaliações dos clientes determinam o acesso a corridas e entregas. Isso significa que, na prática, quem quer sobreviver precisa trabalhar muito mais horas do que em um emprego formal, mas sem as garantias dele.

Paulo Galo insiste que não se trata de demonizar a tecnologia, mas de lutar para que ela não seja usada como justificativa para retroceder em direitos conquistados com décadas de luta. O desafio é construir um modelo de regulação que reconheça os trabalhadores de aplicativo como trabalhadores de fato, com todos os direitos que isso implica.

Na era dos aplicativos, o trabalho digno não pode ser visto como um sonho distante. É uma urgência social. Sem direitos trabalhistas claros, sem proteção contra acidentes e doenças, e sem um mínimo de segurança econômica, estamos normalizando um novo tipo de precarização, travestido de modernidade.

O que Paulo Galo propõe — e o que muitos movimentos de entregadores e motoristas já reivindicam — é simples: direitos iguais para todos, independentemente da mediação tecnológica. Afinal, se o aplicativo é moderno, a exploração não precisa ser.

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