As tecnologias afetam o afeto?
As tecnologias se tornaram parte inseparável do nosso cotidiano. Acordamos com o celular ao lado, trabalhamos diante de telas, conversamos por mensagens e, muitas vezes, nos relacionamos mais por aplicativos do que presencialmente. Isso mudou radicalmente a forma como lidamos com os afetos e com os desejos.
De um lado, é incrível poder manter contato com pessoas que estão longe, matar a saudade por uma chamada de vídeo ou até conhecer alguém que talvez nunca cruzasse nosso caminho. Há um certo encanto em como a tecnologia cria encontros improváveis e facilita a comunicação.
Por outro lado, é inegável que também sentimos o peso disso tudo. Muitas vezes, o que chamamos de “conexão” é apenas uma troca rápida de mensagens, um coração em uma foto ou um áudio apressado. A intimidade, que precisa de tempo e presença, vai sendo substituída por interações superficiais. Os desejos, que antes se construíam no olhar, no gesto e na convivência, passam a ser moldados por algoritmos que nos oferecem rostos, corpos e histórias como se fossem produtos em prateleiras.
Esse imediatismo, que nos acostuma a deslizar o dedo para escolher ou descartar, acaba enfraquecendo a paciência necessária para cultivar vínculos mais profundos. Criamos a ilusão de que temos muitas opções, mas, no fundo, o que cresce é a sensação de solidão.
Não acho que a tecnologia seja uma vilã. Pelo contrário, ela pode ser uma aliada poderosa. O problema é quando deixamos que ela dite a maneira como vivemos nossas relações. O desafio é aprender a equilibrar: usar a tecnologia para aproximar, sem deixar que ela substitua o calor do encontro presencial, o silêncio compartilhado, o abraço que não pode ser traduzido em emojis.
No fim, apesar de todos os avanços, nossos desejos continuam simples: queremos ser vistos de verdade, escutados com atenção, amados sem pressa. Queremos vínculos que durem mais do que a bateria do celular. Talvez a grande tarefa do nosso tempo seja justamente essa: lembrar que, por trás das telas, há pessoas — e que são elas que dão sentido a tudo.
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