Carregando agora
×

A cultura que a gente consome é nossa?

A cultura que a gente consome é nossa?

Quando ligamos a televisão, abrimos um serviço de streaming ou navegamos pelas redes sociais, dificilmente paramos para pensar na origem do que consumimos. Filmes, séries, músicas, livros, moda, memes: tudo chega de forma tão rápida e abundante que parece natural que nosso cardápio cultural seja global. Mas a pergunta é inevitável: a cultura que a gente consome é nossa?

O Brasil sempre foi um país de intensas trocas culturais. Nossa música, nossa culinária, nosso jeito de falar e até nossa forma de contar histórias carregam marcas da mistura de povos e influências. O problema começa quando essa troca se transforma em dependência — quando a maior parte do que circula e se torna popular vem de fora, moldando gostos, comportamentos e referências a partir de um olhar que não é o nosso.

A indústria cultural global, comandada por poucos conglomerados, dita tendências, controla a distribuição e investe pesado em marketing. Enquanto isso, artistas e produtores brasileiros enfrentam orçamentos apertados, falta de visibilidade e dificuldade de competir com produtos que chegam embalados por campanhas milionárias. Mesmo quando nossa cultura consegue ganhar espaço, muitas vezes ela é filtrada para se encaixar nos padrões de consumo internacional, perdendo nuances e contextos.

Isso não significa que devamos fechar as portas ao que vem de fora. A troca é saudável e necessária. Mas o equilíbrio precisa ser repensado. A dependência excessiva enfraquece a produção local, reduz a diversidade e nos coloca em posição de consumidores passivos, em vez de protagonistas criativos. O risco é que, ao consumir quase exclusivamente o que vem de fora, passemos a enxergar o Brasil — e a nós mesmos — através de lentes estrangeiras.

Resistir a essa lógica não é um ato isolado, e sim um movimento coletivo. É valorizar artistas independentes, frequentar produções locais, exigir políticas públicas que incentivem a criação e a distribuição da cultura brasileira. É também reconhecer que cultura não é só entretenimento: é memória, identidade, economia e política.

A cultura que a gente consome molda quem somos. Se quisermos que ela continue sendo nossa — com nossa voz, nossa diversidade e nossas histórias — precisamos defendê-la, produzi-la e compartilhá-la com o mesmo orgulho com que consumimos o que vem de fora. Porque, no fim das contas, não se trata apenas de gosto pessoal, mas de soberania cultural.

Compartilhe...

Publicar comentário