O Hip Hop Está Morto? Ou Apenas Mudou de Endereço?
O hip hop nasceu como um grito coletivo das periferias, unindo rap, grafite, break e DJ numa mesma pulsação. No Brasil, essa energia moldou gerações e foi ponte entre culturas, criando redes de resistência e pertencimento. Mas, nos últimos anos, algo parece ter mudado: os elementos estão cada vez mais distantes entre si e, em muitos casos, elitizados.
O rap, que antes ecoava nas praças e nos bailes, agora vive um paradoxo: é o elemento mais popular e o mais mercantilizado. Muitos artistas que emergem das quebradas veem suas narrativas lapidadas para caber em algoritmos, enquanto batalhas e festivais ganham cara de evento corporativo.
O grafite, por sua vez, conquistou espaço em galerias e projetos patrocinados, mas perdeu, em parte, a espontaneidade da rua. Para muitos artistas, a visibilidade vem acompanhada de curadorias seletivas e circuitos fechados, deixando de lado quem ainda pinta sem convite.
O break dance, antes treino de esquina, hoje se organiza em competições internacionais e espaços fechados. E os DJs, que costuravam o som da festa, acabam cada vez mais restritos a gigs pagas, eventos privados e nichos seletos.
Essa fragmentação pode ser vista como sinal de amadurecimento ou como distanciamento das raízes. Quando cada elemento segue seu próprio caminho, o hip hop perde a força da união que o fez nascer. Não se trata de nostalgia, mas de reconhecer que a essência do movimento sempre esteve na soma — e não na separação — das suas partes.
Então, o hip hop está morto? Talvez não. Mas se continuar dividido e cada vez mais distante das ruas, corre o risco de esquecer quem o criou e por que foi criado.
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