O preço da passagem e o custo da cidade
No Brasil, o preço da passagem de transporte público é um dos termômetros mais sensíveis para medir desigualdade e exclusão social. Para quem depende de ônibus, metrô ou trem diariamente, cada aumento de tarifa é mais do que um número: é uma decisão que afeta o acesso ao trabalho, à educação, à saúde e ao lazer. É a diferença entre poder atravessar a cidade ou ficar preso ao próprio bairro.
A mobilidade urbana não é apenas um problema de deslocamento — é um problema de cidadania. Quando o transporte se torna caro demais, a cidade deixa de ser um espaço comum e se transforma em um território fragmentado, no qual a circulação está restrita a quem pode pagar. É o que vemos em muitas capitais: bairros e periferias afastadas, mal atendidas por linhas e horários, onde a população gasta mais tempo e mais dinheiro para chegar ao centro ou a outras regiões com maior oferta de serviços e oportunidades.
Esse custo não é apenas financeiro. O trabalhador que gasta três ou quatro horas por dia em deslocamentos está pagando também com sua saúde física e mental, com menos tempo para a família, para o descanso e para o lazer. A estudante que precisa de dois ou três ônibus para chegar à faculdade acaba desistindo do curso por não conseguir arcar com a tarifa. O paciente que não tem dinheiro para o transporte adia consultas e tratamentos. São escolhas forçadas pela exclusão.
Quando o transporte público é tratado como mercadoria e não como serviço essencial, o resultado é um ciclo de desigualdade: quem tem menos recursos gasta proporcionalmente mais para se deslocar e perde mais oportunidades por causa disso. As cidades se tornam ilhas de acesso, e não redes integradas.
Discutir o preço da passagem, portanto, não é apenas falar de planilhas e custos operacionais — é debater que tipo de cidade queremos construir. Um sistema de transporte acessível e de qualidade é um investimento na economia, na redução das desigualdades e no fortalecimento da vida urbana. Tarifas justas, subsídios bem aplicados e integração eficiente entre modais não são favores do Estado, mas políticas que reconhecem o direito de ir e vir como pilar da democracia.
Enquanto o transporte público for caro, irregular e excludente, a cidade continuará dividida entre quem pode explorá-la e quem só a assiste de longe. Mobilidade é liberdade — e liberdade tem que ser para todos.
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