Educação pública: investimento ou gasto?
Falar sobre educação pública no Brasil é falar sobre o futuro — e, ao mesmo tempo, sobre o presente que estamos negligenciando. Durante décadas, o país tratou o financiamento da educação como uma questão secundária, sujeita aos cortes de orçamento e às disputas políticas de ocasião. Ainda hoje, há quem veja o gasto com escolas, professores e infraestrutura como um peso nas contas públicas, e não como a base de qualquer projeto sério de desenvolvimento.
Essa visão de “custo” revela um equívoco profundo. Educação não é apenas uma despesa que aparece na planilha anual do governo; é um investimento de longo prazo, cujos resultados se acumulam por gerações. Quando se financia a formação de professores, a construção de bibliotecas, o acesso à tecnologia e o currículo crítico, não se está apenas cumprindo uma obrigação legal — está-se criando condições para que crianças e jovens se tornem cidadãos capazes de pensar, inovar e transformar suas comunidades.
O oposto também é verdadeiro: tratar a educação como gasto leva à deterioração lenta e constante de todo o sistema. Salas de aula superlotadas, professores mal remunerados, prédios precários e falta de material didático criam um ambiente que desestimula o aprendizado e perpetua desigualdades. O resultado é um ciclo perverso: quem tem dinheiro busca alternativas privadas, enquanto a maioria fica restrita a um ensino público fragilizado, que limita oportunidades e condena milhões a uma cidadania incompleta.
A pergunta central — investimento ou gasto? — é, na verdade, um espelho de nossas prioridades. Se o país aceita cortar verbas da educação em nome de “responsabilidade fiscal”, mas mantém incentivos e renúncias bilionárias para setores específicos, está dizendo claramente que não considera a formação de sua população como estratégica.
O debate é urgente porque define não só o amanhã, mas também o presente. A economia que queremos, a democracia que defendemos e a sociedade que projetamos dependem diretamente da qualidade da educação que oferecemos hoje. Escolher investir na educação pública é escolher um futuro mais igualitário, produtivo e justo. Escolher tratá-la como gasto é condenar o país à repetição dos mesmos problemas que nos acompanham há séculos.
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