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Juventude periférica: protagonista ou estatística?

Juventude periférica: protagonista ou estatística?

Quando falamos sobre juventude periférica, o discurso dominante costuma oscilar entre dois extremos: o da esperança e o da tragédia. De um lado, campanhas e projetos que exaltam o “potencial transformador” desses jovens; de outro, manchetes que reduzem suas vidas a números de violência, evasão escolar ou desemprego. No meio desses dois polos, existe a vida real — feita de histórias, sonhos, contradições e lutas diárias.

A pergunta que dá título a este texto é mais do que retórica: a juventude periférica está sendo ouvida como protagonista de sua própria narrativa ou continua sendo tratada como um dado estatístico, sem direito de definir a pauta sobre o próprio futuro?

Não é por falta de capacidade que a resposta tende para o segundo cenário. As periferias produzem artistas, líderes comunitários, empreendedores e intelectuais, muitas vezes em condições adversas e sem acesso aos recursos que seriam básicos em outras partes da cidade. O problema é que, mesmo com todo esse potencial, o poder de decisão raramente está nas mãos desses jovens. Eles são convidados a participar, mas não a decidir; a opinar, mas não a implementar.

Essa disputa de narrativa é central. Enquanto os jovens da periferia forem apresentados ao restante da sociedade apenas como exemplos de “superação” ou, pior, como ameaças à ordem, sua presença na política, na cultura e na economia será tratada como exceção. Isso cria um ciclo perverso: a invisibilidade alimenta a falta de oportunidades, que, por sua vez, reforça a invisibilidade.

Para quebrar esse ciclo, é necessário abrir espaços reais de poder e decisão. Isso significa incluir jovens periféricos na elaboração de políticas públicas, nas direções de organizações culturais, nas redações de jornais, nas mesas de negociação sobre emprego e tecnologia. Não basta falar “sobre” eles — é preciso falar com eles e, principalmente, ouvi-los.

A juventude periférica não pode ser vista apenas como o “futuro” — porque ela já é o presente. Está criando música, influenciando a moda, construindo novas linguagens nas redes sociais, empreendendo de forma inovadora e trazendo soluções para problemas históricos de seus territórios. Reconhecer esse protagonismo é mais do que uma questão de justiça: é entender que o Brasil que queremos depende da participação ativa desses jovens na sua construção.

Se a juventude periférica continuará sendo protagonista ou estatística depende da nossa disposição coletiva para deslocar o centro da narrativa, abrir mão de privilégios e permitir que o futuro seja escrito a muitas mãos. Afinal, nenhum país se constrói ignorando a voz da maioria de sua população jovem.

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