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Meio ambiente e periferia: por que a conta chega primeiro para nós?

Meio ambiente e periferia: por que a conta chega primeiro para nós?

Quando se fala em meio ambiente, as imagens mais comuns nos noticiários são florestas queimando, rios poluídos ou praias tomadas por lixo. Mas, para quem vive na periferia, o impacto ambiental é mais íntimo e imediato — e muitas vezes vem acompanhado de um peso psicológico que poucos reconhecem: a ansiedade ambiental.

Esse termo, ainda pouco discutido nas políticas públicas, descreve o medo constante sobre o futuro do planeta e a sensação de impotência diante da degradação ambiental. Mas, na periferia, essa ansiedade ganha contornos específicos: não é só a preocupação com o que vai acontecer daqui a décadas, é a vivência diária com enchentes que invadem casas, com o calor extremo que transforma ruas sem árvores em fornos, com a falta de saneamento que traz doenças e mau cheiro. Aqui, o “futuro” já chegou, e ele tem cheiro de esgoto e fumaça.

O poder público costuma apresentar soluções ambientais grandiosas, mas quase sempre voltadas para proteger bens materiais estratégicos — centros comerciais, áreas turísticas, empreendimentos de alto valor. Enquanto isso, bairros periféricos continuam sendo esquecidos nos planos de drenagem, arborização e coleta seletiva. O resultado é que, a cada chuva forte ou onda de calor, a conta ambiental chega primeiro para nós: casas perdidas, móveis destruídos, saúde comprometida e um desgaste emocional profundo.

Pouco se fala sobre como essas crises afetam a saúde mental. Viver sabendo que a qualquer momento sua rua pode alagar ou que a água vai faltar no verão gera um estado de alerta permanente. É a ansiedade ambiental combinada com a desigualdade social: além de lidar com a preocupação global sobre o planeta, temos de enfrentar o descaso local que nos coloca na linha de frente do desastre.

Essa lógica perpetua um ciclo cruel. Ao negligenciar as periferias nas políticas ambientais, o Estado reforça a ideia de que há territórios e vidas mais “protegíveis” que outras. E isso não é apenas injusto, é ineficaz: não existe cidade sustentável enquanto parte dela é deixada para enfrentar sozinha os impactos climáticos.

Falar de meio ambiente, portanto, é também falar de justiça social e de saúde mental. É exigir que políticas climáticas incluam psicólogos comunitários, campanhas de conscientização e ações preventivas nas áreas mais vulneráveis. É reconhecer que o direito a um ambiente saudável não é apenas sobre árvores e rios, mas sobre a tranquilidade de saber que sua casa, sua família e sua vida não estão sempre à beira do colapso.

Enquanto isso não acontecer, a conta vai continuar chegando primeiro para nós — e não será só financeira ou material, mas emocional e humana.

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